23 de set. de 2006

Pesquisa genética e Esporte

Ramirez, A. & DaCosta, LP. Pesquisa genética e Esporte. In: Atlas do Esporte no Brasil II. Rio de Janeiro, 2006 (no prelo).

Definições e origens Por definição a genética é a ciência que estuda os genes, a hereditariedade, e a variação nos organismos. A palavra foi usada pela primeira vez pelo cientista inglês William Bateson em 1905. De origem grega, genno significa dar à luz, nascimento. Antes mesmo da existência da palavra foram realizados vários estudos sobre hereditariedade, dos quais se destacaram os experimentos com cruzamentos de ervilhas realizados pelo monge austríaco Gregor Mendel, publicados em 1865. Posteriormente, descobertas citológicas levaram a crer que os genes estavam contidos nos cromossomos e estes, por sua vez, no núcleo de cada célula dos seres vivos eucariontes. A Teoria Cromossômica da Herança foi estabelecida em 1902-03 por Sutton e Boveri e comprovada por Morgan em 1910. Esta teoria, aliada à compreensão das Leis de Mendel, formaram a base do entendimento da herança de caracteres monogênicos ou simplesmente, da hereditariedade. Atualmente a genética pode ser definida como a ciência que estuda, além dos fenômenos da hereditariedade, também o comportamento e as funções dos genes. Genes são unidades físicas e funcionais da hereditariedade, formados por segmentos específicos da molécula de DNA, localizados nos cromossomos, que codificam um produto funcional (proteínas ou somente RNA). A maioria dos geneticistas atuais concentra-se nos estudos dos genes e, mais especificamente, em como eles atuam e interagem entre si. Este ramo moderno da genética, especificamente interessado no estudo dos genes (Genômica), das proteínas (Proteômica) e mais recentemente do metabolismo (Metabolômica), também de domínio da bioquímica, é amplamente conhecido no meio acadêmico por Biologia Molecular, muitas vezes equivocadamente divulgado como Engenharia Genética. Todo este arcabouço elaborado pelos estudos moleculares tem sido atualmente aproveitado como ferramentas para a manipulação de DNA de mamíferos, inclusive do ser humano e, portanto, compõem o que chamamos de ferramentas moleculares que se prestem às novas tecnologias biomoleculares. Definimos tecnologias biomoleculares como o conjunto das técnicas de manipulação de DNA, RNA e/ou proteínas, que incluem extração, quantificação, amplificação, marcação, localização de genes, isolamento, sequenciamento, transferência e clonagem para a realização de terapias gênicas, inclusive o “doping genético”. A história da genética no esporte pode remontar à Mitologia Grega quando, há mais de 2.500 anos, o recém nascido Hércules teria estrangulado uma cobra em cada mão enquanto a deusa Hera tentou matá-lo. Esta força lendária, provavelmente um caso de mutação genética relacionada ao gene codificador da miostatina, teria sido óbvia ao nascimento e não resultante de um programa de exercícios (Catipovic, 2004). Contemporaneamente, o interesse do Esporte pelos estudos genéticos parece datar de 1967, quando foi concebido o “Programa de Genética e Biologia Humana”, coordenado e dirigido pelo Dr. Alfonso León de Garay com apoio da Comissão Nacional de Energia Nuclear do México, do COI e da Federação Internacional de Medicina do Esporte. Na verdade a Comissão Nacional de Energia Nuclear do México já havia apoiado a pesquisa antropométrica desde 1958 cujos resultados preliminares foram obtidos durante os Jogos Olímpicos de Roma – 1960 e apresentados em The Physique of the Olympic Athlete de J.M Tanner e Olympiad de V. Correnti. Ambos os estudos referem-se à relação entre a antropometria e o sucesso alcançado pelos atletas em modalidades esportivas específicas. Tanner concluiu que os somatotipos não somente definem os atletas e seus limites esportivos, como também as atividades esportivas mais adequadas para cada atleta. Destas obras surgiram novas pesquisas que levaram à compreensão da influência da hereditariedade e dos fatores ambientais envolvidos na constituição atlética a fim de se estabelecer os somatotipos mais favoravelmente aplicáveis a cada esporte (Mexico City Olympic Games Official Report, 1968). A partir deste ponto de referência de memória, apresenta-se a cronologia abaixo, expondo em destaque pesquisas internacionais de importância para a definição da área bem como as principais investigações nacionais também no mesmo tema.

1967-1969 No México o “Programa de Genética e Biologia Humana” promove o Primeiro Seminário Internacional para o Estudo dos Atletas Olímpicos a fim de se estabelecer as metas para o projeto “Estudos genéticos e antropométricos de atletas olímpicos”. De acordo com as decisões deste Seminário foi conduzido um estudo piloto durante a Terceira Competição Internacional de Esportes em Outubro de 1967, envolvendo 196 atletas de classe internacional (163 homens e 33 mulheres). Além de realizar avaliações antropométricas, os pesquisadores procuraram por alterações cromossômicas sexuais. Previu-se que esta análise não somente ofereceria informações sobre a influência genética na constituição física, mas ajudaria a avaliar os fatores hereditários das habilidades atléticas. As análises do histórico familiar, estudos citológicos, estudos de caracteres monogênicos, antropometria, e impressões digitais e palmares foram realizadas em colaboração com os pesquisadores L. Levine, Barbara H. Heath, L. Carter e D. Paschal. O Segundo Seminário Internacional ocorreu na Vila Olímpica dos Jogos de 1968, na Cidade do México, e no Laboratório de Genética da Comissão de Energia Nuclear Mexicana, para examinar as técnicas e métodos aplicados durante a Terceira Competição Internacional de Esportes. O Dr. Alfonso León de Garay presidiu a assembléia com o Dr. Louis Levine da Universidade Rockefeller de Nova Iorque atuando como moderador. Os trabalhos de Genética foram coordenados pelo Dr. S. Geerts da Holanda, e os de Antropometria pelo Dr. D. Bainbridge da Inglaterra. Em especial houve a presença de um geneticista brasileiro neste Seminário, o Dr. Oswaldo Frota-Passoa, do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo. Este especialista juntamente com Charles E. Ford do Estabelecimento Atômico do Reino Unido contribuiu com sugestões para a pesquisa cromossômica e alertou sobre o risco dos estudos citogenéticos, incluindo cromatina sexual, quando avaliados independentemente de suas aplicações em genética médica, tais como doping ou intersexualidade, como base para desqualificação (Mexico City Olympic Games Official Report, 1968). Este projeto, pioneiro rumo à definição dos fatores hereditários e ambientais responsáveis pelo sucesso dos atletas, avaliou 1265 atletas de 92 países durante as Olimpíadas do México. O Brasil contribuiu com 85 atletas, 81 homens e quatro mulheres. Dos atletas brasileiros foram selecionados 37, dos quais 26 (24 homens e duas mulheres) tiveram seus dados efetivamente analisados pelos pesquisadores. Em 1969, durante a análise dos resultados, o programa recebeu mais verbas com as quais se realizou o Terceiro Seminário Internacional e a finalização do projeto (DeGaray et al., 1974).

1968 Ernst e Peter Jokl da Universidade de Kentucky escreveram o livro The physiological basis of athletic records pela Comissão de Pesquisa do Conselho Internacional de Esporte e Educação Física da UNESCO no qual incluíram um capítulo sobre os “Determinantes genéticos da condição atlética” chamando a atenção para a hereditariedade observada em famílias de atletas campeões. Apontaram estudos com gêmeos realizados por L. Gedda, A.N. Mirenva, O. von Verschuer e H.H. Newman, e P.B. Medawar, considerando os efeitos do treinamento sobre os caracteres herdados. Revelaram ainda o fenômeno da constituição de famílias entre atletas, e sugeriram que muitos talentos geneticamente pré-determinados não eram aproveitados pelas nações (Jokl&Jokl, 1968). No Brasil foi lançado o livro “Introdução à Moderna Ciência do Treinamento Desportivo” de Lamartine Da Costa e colaboradores, no qual a observação da individualidade biológica é destacada como fundamental para o treinamento esportivo, bem como revela explicitamente que o grau de variabilidade biológica na reação ao treinamento esportivo é limitado por fatores genéticos. Importa ainda constar que textualmente encontra-se na referida obra: “Há indivíduos que assimilam mais rapidamente o condicionamento de determinadas qualidades enquanto a outros o esforço apresenta-se quase que inócuo” (pág.25).

1972 Uma revisão sobre a genética do rendimento desportivo foi feita por H. von Bracken no capítulo Psicologia Genética Humana (Becker, 1973) apontando os trabalhos de 1) Galton – Hereditary Genius (1869) que apresenta um capítulo sobre a freqüência de rendimento de remadores em determinadas famílias e outro sobre os boxeadores do norte da Inglaterra, 2) Grebe (1963) que comunicou exemplos de semelhanças entre pais e filhos e entre gêmeos esportistas revelando semelhança maior entre gêmeos univitelíneos do que entre bivitelíneos, 3) Gedda (1960) que estudou 351 pares de gêmeos encontrando concordância de 90% entre os univitelíneos e cerca de 60% entre os bivitelíneos relacionada à atividade esportiva, 4) Wright (1961) que realizou um estudo controverso porque analisou apenas um par de gêmeos de vitelinidade incerta, porém realizou vários testes (coordenação, força muscular, agilidade, resistência e tempo de reação) e observou que o garoto que vivia no campo tinha rendimento melhor nas suas habilidade atléticas, sobretudo quanto à resistência e força muscular, do que o que vivia na cidade, 5) Mizuno (apud Tókio, 1956) que demonstrou, também em gêmeos univitelíneos, que a força muscular estava mais condicionada pelo treinamento do que pelos genes, 6) Gesell e Thompson (1929), que também utilizaram gêmeos como controle metodológico, verificaram que ao final do primeiro ano de vida ocorrem progressos com ou sem treinamento devido à maturação biológica. O próprio von Bracken relatou que pareciam existir componentes da amplitude desportiva mais intensamente condicionados pela herança enquanto outros pareciam mais relacionados ao treinamento.

1976 Neste ano foi dada a público a pesquisa “Treinamento Desportivo e Ritmos Biológicos” dirigida por Lamartine DaCosta (1977), tendo como sujeitos atletas brasileiros, os quais foram deslocados para a Suécia partindo do Rio de Janeiro – RJ (quatro fusos horários de diferença). Neste experimento, foram mensuradas variações fisiológicas e avaliadas reações psicológicas de modo a se apreciar o comportamento da adaptação à mudança de fusos horários e aos respectivos impactos no treinamento esportivo e performances atléticas. Houve vinte variáveis controladas no Rio de Janeiro (1ª. fase da pesquisa) e Atvidaberg (2ª. fase), sendo doze laboratoriais incluindo o 17-Cetosteróide, segundo o protocolo Callow – Zimmermann. Nas conclusões (pp. 112 – 121), o citado pesquisador brasileiro demonstrou que havia uma “predominância celular” na resincronização das funções fisiológicas tanto quanto nas adaptações ao exercício físico. Este estudo obteve o Prêmio Ministério da Educação e Cultura de Literatura Desportiva de 1976.

1977 O professor Aguinaldo Gonçalves concluiu seu projeto de mestrado intitulado “Estudo genético-clínico de família afetada pela síndrome de Mounier Kohn” no Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo - USP, sob a orientação da geneticista Anita Wajntal, onde entra em contato com a importância da análise das impressões dermatoglíficas para a Genética Médica.

1980 Rudolf Kovár, da Universidade Charles de Praga, escreveu o livro Human variation in motor abilities and its genetic analysis abrangendo tópicos sobre variabilidade e diferenças individuais, princípios da genética – análise estatística de traços quantitativos, métodos básicos aplicados ao estudo das influências hereditárias e talento esportivo. Ele enfatiza que o método dos gêmeos é o mais eficaz para avaliar os aspectos genéticos das habilidades motoras (Kovár, 1980). O estudo de gêmeos, nesta época uma metodologia amplamente realizada pela Genética Humana e Médica, foi indicado para a realização dos estudos do comportamento humano geral, até mesmo para as pesquisas das características físicas como estatura, peso e índices antropométricos por revelar a distinção entre as características genéticas herdadas e ambientais (Saldanha, 1980).

1981 O Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul – CELAFISCS trabalharam com gêmeos verificando a aptidão física geral de gêmeas basquetebolistas (Matusudo & Duarte, 1981).

1986 Robert M. Malina e Claude Bouchard editaram Sports and human genetics, o quarto volume de trabalhos apresentados no Congresso Olímpico de 1984. A obra inclui os seguintes artigos: Gêmeos – influência genética no crescimento (Ronald S. Wilson), Genética do desenvolvimento motor e performance (Robert Malina), Genética da capacidade aeróbica (Claude Bouchard), Genética da saúde relacionada ao bem estar físico (William J. Schull), Determinantes genéticos da perfornace esportiva (D.F. Roberts), Hereditariedade e traços psicomotores no homem (Napoleon Wolanski), Genética e tamanho cardíaco (Ted D. Adams et al.), Tipo de composição da fibra muscular e enzimas ativadas em gêmeos monozigóticos (Gilles Lortie et al.), Variação genética na força-velocidade do músculo humano (Brian Jones e Vassilis Klissouras), Capacidade anaeróbica alática em irmãos adotados e biológicos (Jean-Aimé Simoneau et al.), Sensibilidade aeróbica máxima e capacidade para treinamento anaeróbico é parcialmente dependente da genética (Marcel R. Boulay et al.).

1994 O brasileiro José Fernandes Filho iniciou seu projeto de doutorado intitulado “Impressões Dermatoglíficas - Marcas Genéticas na Seleção dos tipos de Esportes e Lutas (a exemplo de desportistas do Brasil)” no Instituto Central Estatal Orden Lenin de Cultura Física, na Rússia.

1995 Foi iniciado o estudo familial HERITAGE (HEalth, RIsk factors, exercise Training And GEnetics) sob a coordenação do geneticista Claude Bouchad que documenta o papel do genótipo nas respostas cardiovasculares, metabólicas e hormonais ao treinamento aeróbico. Um consórcio de cinco universidades nos Estados Unidos e no Canadá que avaliou um total de 90 famílias caucasóides e 40 afro-americanas com ambos os pais e três ou mais filhos biológicos adultos. Todos os participantes foram testados, treinados no laboratório com o mesmo programa de 20 semanas, e re-testados com relação às seguintes variáveis: consumo de oxigênio, taxa de troca gasosa, pressão sanguínea, freqüência cardíaca, débito cardíaco, lactato sanguíneo, glicose, e ácidos graxos livres medidos durante o exercício, e o consumo máximo de oxigênio determinado antes e após o treino. Lipídios plasmáticos, lipoproteínas e apoproteínas, respostas tanto da glicose quanto da insulina à glicose, hormônios esteróides e glicocorticóides plasmáticos. Gordura corporal e distribuição desta gordura, também foram avaliados (Bouchard et al., 1995). O brasileiro João Paulo Borin realizou um curso de aperfeiçoamento na Rússia, momento em que também entrou em contato com a dermatoglifia.

1997 Ano em que o professor José Fernandes Filho concluiu seu doutorado e retornou ao Brasil. Começou a ministrar aulas, foi professor convidado e ocupou cargos de direção em diversas instituições brasileiras e estrangeiras. Lançamento do livro Genetics of fitness and physical performance de Claude Bouchard, Robert M. Malina e Louis Pérusse que apresenta de forma clássica e abrangente as bases genéticas para atividades físicas e esportivas.

1998 O Dr. José Fernandes Filho fundou, com o Dr. Estélio Henrique Martin Dantas, o Laboratório de Biociências da Motricidade Humana - LABIMH onde inicia o projeto “Dermatoglifia e somatotipia da performance motora”.

2000 O Comitê de Saúde, Medicina e Pesquisa da Agência Mundial Anti-Doping - WADA, da qual fazem parte neste período os brasileiros Dr. Eduardo Henrique DeRose e Dr. Lamartine DaCosta, determinou que fosse dada prioridade ao estudo de métodos de detecção de fatores de crescimento, incluindo hormônio de crescimento, agentes carregadores de Oxigênio (EPO) e manipulação genética.

2001 Pesquisadores do grupo HERITAGE iniciaram publicações anuais que constituem um mapa com os genes candidatos para os fenótipos de desempenho físico e saúde (Rankinen et al., 2001). O Comitê Olímpico Internacional - COI promoveu o Simpósio “Terapia gênica e seu futuro impacto no esporte”. Este Simpósio reuniu especialistas em genética para definir terapia gênica e avaliar o seu potencial impacto no esporte sob o ponto de vista ético e científico. O simpósio foi realizado pelo príncipe Alexandre de Merode, presidente da Comissão Médica do COI. No Brasil, neste mesmo ano Paulo Moreira Silva Dantas concluiu seu projeto de mestrado intitulado “Identificação dos perfis genético, de aptidão física, e somatotípico que caracterizam atletas masculinos de alto rendimento, participantes do futsal adulto no Brasil” sob a orientação do Dr. José Fernandes Filho da Universidade Castelo Branco – UCB, RJ.

2002 O Professor João Paulo Borin concluiu seu projeto de doutorado “Detecção de talento esportivo: estudo a partir de diferentes níveis de atletas de basquetebol e não atletas” pela Universidade Estadual de Campinas, orientado pelo Dr. Carlos Roberto Padovani e co-orientado pelo Dr. Aguinaldo Gonçalves. A WADA realizou o primeiro simpósio sobre Doping Genético nos Laboratórios Cold Spring Harbour em Nova Iorque e o presidente do COI enfatizou o problema do doping genético, particularmente revelando a importância de trabalhar com a indústria farmacêutica para combater a questão.

2003 O professor José Fernandes Filho ministrou “Tópicos especiais em dermatoglifia e somatotipia aplicada em variáveis biofísicas” na Universidade Federal do Rio Grande do Norte e expandiu suas pesquisas com dermatoglifia para a região nordeste do país. A nova lista de substâncias proibidas da WADA incluiu proibição ao doping genético como método - o termo refere-se à utilização não terapêutica de genes, elementos genéticos e/ou células que têm a capacidade de melhorar a performance atlética. A convite do professor Laércio Elias Pereira foi criada a 93ª. Lista de discussão do Centro Esportivo Virtual, Cevgenética, administrada pela geneticista Andréa Ramirez, como expansão das atividades do Grupo de Estudos de Genética da Faculdade de Educação Física da FMU-SP.

2004 Pré-lançamento do livro Genetically modified athletes – biomedical ethics, gene doping and sport do filósofo Andy Miah no Congresso Pré-Olímpico em Thessaloniki na Grécia. Antes, neste mesmo ano, este pesquisador inglês fez uma apresentação sobre a obra no Fórum Olímpico, realizado em São Paulo – SP, promovido pela Escola de Educação Física da USP. Paulo Moreira Silva Dantas concluiu seu doutorado “Relação entre estado e predisposição genética no futsal brasileiro”, pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, sob a orientação do Prof. Dr. José Fernandes Filho.

2005 O Prof. Dr. José Fernandes Filho iniciou o projeto “Perfil das variáveis dermatoglíficas, somatotípicas e das qualidades físicas básicas em crianças praticantes da modalidade voleibol da favela da Maré” na Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, e escreveu, com Paulo Moreira Silva Dantas e Paula Roquetti Fernandes, “Genética e treinamento esportivo: O uso da prática da dermatoglifia”, na primeira edição do Atlas do Esporte no Brasil (2005). Até o momento, o Dr. José Fernandes Filho orientou cerca de 30 dissertações de mestrado sobre Dermatoglifia na UCB-RJ, e cinco teses de doutorado na UFRN-RN. Em dezembro deste ano a WADA realizou o segundo simpósio sobre Doping Genético em Estocolmo e aperfeiçoou o conceito de doping genético como “a utilização não terapêutica de células, genes, elementos genéticos ou de modulação da expressão gênica, com capacidade de melhorar a performance atlética”.

2006 Foi realizado o seminário “Pesquisa genética em Educação Física/Ciências do Esporte” durante o XI Congresso de Ciências do Desporto e Educação Física dos Países de Língua Portuguesa em São Paulo.

Situação atual Há evidências de uma descontinuidade nas pesquisas de genética clássica, com exceção ao estudo da dermatoglifia no Brasil, bem como parca literatura nacional e internacional relacionando genética e esporte de um modo geral. A razão mais óbvia pode ser atribuída à falta de interesse dos geneticistas, associada à dificuldade de trabalhar com características poligênicas e multifatoriais até o final do século XX. A Genética Humana e Médica avançou, da década de 1970 até aproximadamente o ano 2000, identificando genes responsáveis por doenças genéticas monogênicas. Este avanço teria sido praticamente inviável para a detecção de genes relacionados às características atléticas. No entanto, atualmente as novas tecnologias biomoleculares permitem a identificação e manipulação de genes que possam ser utilizados terapeuticamente na reconstituição de tecidos de regeneração lenta, como tendões e cartilagens (Huard et al., 2003). Paradoxalmente, a terapia gênica chega ao esporte na forma de “doping genético”, principalmente devido aos efeitos dos genes codificadores da eritropoietina (EPO), miostatina (GDF-8) e fatores de crescimento, principalmente o semelhante à insulina (IGF-1). Discute-se o papel destes genes na melhora da performance esportiva (Ramirez & Ribeiro, 2005) e suas perspectivas para o treinamento desportivo, especialmente sob o ponto de vista ético (Miah, 2004). Finalmente, seria significativo que, a exemplo da identificação de pessoas através das seqüências do DNA e perspectivas para as terapias gênicas, as novas tecnologias biomoleculares fossem utilizadas no esporte para: orientação equânime de talentos esportivos, acompanhamento longitudinal de atletas para realização de testes antidoping genético preventivo, bem como na identificação tanto de atletas como de pessoas fisicamente ativas que estivessem sob o risco de desenvolver doenças genéticas tardiamente, e na compreensão de processos genéticos envolvidos com a promoção e manutenção da saúde humana de um modo geral.

Fontes Catipovic, B. Myostatin mutation associated with gross muscle hypertrophy in a child. (Letter) New Eng. J. Med. 351: 1030 only, 2004; 1968 Mexico City Olympic Games Official Report Volume 4: The Cultural Olympiad Mexico City Olympic Games Official Report Volume Four, 1968; DeGaray, A.L., Levine, L., and Carter, J.E.L. (1974). Genetic and Anthropological Studies of Olympic Athletes. Academic Press, New York; Jokl E & Jokl P. Genetic determinants of athletic status. In: The physiological basis of athletic records. American Lecture Series 712. Research Committee International Council of Sport and Physical Education – UNESCO. Charles C Thomas- Springfield, 96-117, 1968.; Da Costa LP Introdução à Moderna Ciência do Treinamento Desportivo Brasília: Divisão de Educação Física do MEC; Becker, P.E. (ed.) Genética Humana. Tomo ½ Barcelona, Ediciones Toray S.A. 1973. p.493-495.; DaCosta LP Treinamento Desportivo e Ritmos Biológicos. José Olímpio Editora, Rio de Janeiro, 1977; Kovar R. Human variation in motor abilities and its genetics analysis. Charles University Prague, 1980. 171p.; Saldanha PH. Gêmeos – Hereditariedade versus ambiência. São Paulo, Hucitec Edusp, 1980. 92p; Matsudo V.K.R., Duarte CR Aptidão física geral de gêmeas basquetebolistas. Revista Brasileira de Ciências do esporte 2(2), 1981; Malina RM & Bouchard C. Sport and Human Genetics. The 1984 Olympic Scientific Congress Proceedings. v.4. Human Kinetics, Illinois, 1986, 184p.; Bouchard C, Leon AS, Rao DC, Skinner JS, Wilmore JH, Gagnon J. The HERITAGE family study. Aims, design, and measurement protocol. Med Sci Sports Exerc. 1995 May; 27(5):721-9; Bouchard C, Malina R.M., Pérusse L. Genetics of fitness and physical performance. USA. Human Kinetics. 1997. 400p; Rankinen T, Pérusse L, Rauramaa R, Rivera MA, Wolfarth B, Bouchard C. The human gene map for performance and health-related fitness phenotypes. Med Sci Sports Exerc, 33(6): 855-67, 2001; Cevgenética http://www.cev.org.br/br/listas/listas.asp?cd_lista=93; Miah A. Genetically modified athletes – biomedical ethics, gene doping and sport. Great Britain, Routledge, 2004. 208p; DaCosta LP (Org.) Atlas do Esporte no Brasil. Shape Editora, Rio de Janeiro, 2005.; Huard J, Li Y, Peng H, Fu FH. Gene therapy and tissue engineering for sports medicine. J Gene Med, 5(2): 93-108, 2003; Ramirez, A., Ribeiro, A. Doping genético e esporte. Revista Metropolitana de Ciências do Movimento Humano, 5(2): 9-20, 2005.

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Resumo do Programa de Genética e Biologia Humana realizado nas Olimpíadas de 1968

Objetivos:
Avaliação dos efeitos produzidos pela interação dos fatores ambientais e composição genética sobre as habilidades e eficiência dos atletas olímpicos. A aplicação desta pesquisa para a biologia humana, incluindo recomendações técnicas para assegurar educação física apropriada, bem como higiene e medidas de conservação da saúde, e a possibilidade da detecção precoce – durante a infância ou adolescência – das modalidades esportivas mais adequadas para cada indivíduo.

Principais linhas de pesquisa:
a) Estudos familiais – com o objetivo de revelar relações entre o papel dos pais e da irmandade no desenvolvimento da carreira atlética. A maioria dos atletas eram os segundos filhos da família.
b) Análise antropológica – realizaram uma série de medidas corporais levando à maior descrição das relações entre os tipos físicos e as especialidades esportivas. Os dados revelaram que os atletas não possuíam os tipos corporais representados pelos extremos da normalidade como se imaginava, mas que estavam próximos dos extremos.
c) Caracterização genética – Descobriram que para certos traços genéticos os atletas olímpicos pareciam diferir significativamente das populações raciais às quais pertenciam. Uma descoberta interessante foi a observação de hemácias contendo traços da siclemia (anemia falciforme) nos atletas olímpicos.

Métodos e Resultados da caracterização genética:
a) Reação gustativa à feniltiouréia (sensibilidade ao PTC) - Os resultados revelaram que a insensibilidade ao PTC (traço recessivo) entre os atletas foi menor que na população geral, inclusive quando analisados por grupos raciais.
b) Sistemas sanguíneos – Analisaram os sistemas ABO, MN e Rh, e enzimas eritrocitárias e plasmáticas como a glicose-6-fosfato-desidrogenase, fosfatase ácida, haptoglobina, transferrina, fator Gc e hemoglobina. Os dados não revelaram qualquer associação entre estes sistemas com as habilidades atléticas ou com as modalidades esportivas.
c) Dermatoglifia – Os pesquisadores analisaram as impressões digitais e palmares dos atletas olímpicos. Os parâmetros considerados para a análise das impressões digitais foram: os tipos (arcos, presilhas e verticilos), a quantidade de linhas (contagem total de linhas), índice de intensidade (total de trirrádios por dedo ou trirrádios por indivíduo). Para a análise das impressões palmares consideraram o índice da linha principal, a ausência da linha C e o ângulo atd. Entretanto, como os atletas pertenciam a vários grupos raciais, as diferenças entre os traços não puderam ser atribuídas ao desempenho esportivo.
d) Citogenética – Os pesquisadores realizaram análise da cromatina sexual, e análise cromossômica e, com exceção do aumento do comprimento do cromossomo Y em atletas mongolóides, os resultados não revelaram diferenças que justificassem melhora do desempenho esportivo.

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